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Chamada a participar do atual debate público, em que as disputas de sentido em torno dos acontecimentos políticos se desenrolam com intensidade, a Abralin – Associação Brasileira de Linguística -, se pronuncia sobre o uso das palavras “genocídio” e “genocida”, que têm circulado em manifestações cotidianas nas muitas cobranças por uma gestão responsável em relação ao contexto da pandemia da Covid-19 no país. 

O estudo do significado dos itens lexicais de uma língua é uma atividade de diferentes áreas das ciências da linguagem. Para as ciências da linguagem, a língua está sujeita a transformações que ocorrem por diversas necessidades comunicativas e  posicionamentos discursivos. Não é difícil encontrar palavras que têm o significado literal/jurídico com manifestações distintas no cotidiano. A palavra ‘solteiro’, por exemplo, do ponto de vista jurídico, refere-se ao estado civil de não casado, mas coloquialmente é utilizada, de maneira mais criativa, para também referir a uma pessoa que não está namorando. Do mesmo modo, dificilmente um defensor do agronegócio irá usar o termo “agrotóxico” ou “veneno” para se referir aos pesticidas. 

Assim, os críticos ao atual governo, ao utilizarem as palavras “genocídio” e  “genocida”, imprimem ao debate público democrático a contundência de uma crítica direcionada a comportamentos adotados pelo presidente Jair Bolsonaro e por muitos integrantes de seu governo, ao tratarem a Covid 19 como uma simples gripe, ao aparecerem diversas vezes em público sem utilizar máscara de proteção, ao promoverem o uso de medicamentos não comprovados na prevenção e no tratamento da infecção e ao promoverem aglomerações. 

A Abralin repudia veementemente qualquer forma de tentativa de silenciamento do debate público, com base em argumentos que pretendem disciplinar, conter, reprimir as movências da linguagem. Enquanto membros de uma democracia, temos o direito à manifestação política, com o uso de termos e metadiscursos que não são propriedades exclusivas do exercício enunciativo jurídico ou qualquer outro exercício.  A língua e seus usos são bens comuns e, como tais, não são propriedades privadas deste ou daquele grupo.