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Na manhã de hoje, 27/02/2021, recebemos a triste notícia do falecimento do senhor José Evangelista Puruborá (conhecido por todos como Nilo Puruborá), na cidade de Guajará-Mirim (RO), onde estava internado desde o dia 20/02. Nilo era um dos últimos anciãos falantes da língua Puruborá. Com sua partida, resta um único falante idoso de Puruborá (Paulo Aporeti Puruborá) e os jovens aprendizes que estão em um processo de revitalização da língua. Tive o prazer de conhecer o Nilo Puruborá, em 2001, no seu sítio, próximo a Guajará-Mirim, quando ele me contou sobre suas lembranças da juventude e me ensinou as primeiras palavras que ouvi em Puruborá. Naquele ano, conheci todos os anciãos Puruborá e iniciamos um projeto de documentação da língua, a partir da lembrança dos que ainda se recordavam da sua língua ancestral. Nilo e Paulo Aporeti foram especialmente importantes para a gente conseguir fazer a documentação da língua. Reuni várias vezes com Nilo, na sua casa em Guajará, na casa do seu primo Paulo Aporeti, nas assembleias do povo Puruborá, às quais ele sempre comparecia, mesmo com dificuldades em razão da idade avançada. Com muita paciência e com muita vontade de ensinar, ele nos ajudou a registrar muito do que temos hoje documentado da língua Puruborá. Juntos organizamos um “Vocabulário Ilustrado de Animais na Língua Puruborá”, que foi o primeiro material elaborado e utilizado no processo de retomada da língua, que está em curso, na aldeia Aperoi. Com ele aprendi muito sobre a língua e a cultura Puruborá, mas também sobre como ser resiliente na vida e sobre as dificuldades que teve que enfrentar e ainda assim manter viva na memória a língua dos seus ancestrais, mesmo sem ter com quem falar por décadas. Com sua partida, vai embora também, parte da nossa ancestralidade, uma infinidade de conhecimentos e de memórias. Eu tinha esperança de ainda visita-lo, não deu mais tempo. Ele seguiu sua viagem para o mundo dos espíritos, onde vai reencontrar os seus parentes que foram na frente. Deixa aqui esposa, filhos, filhas, netos/as, sobrinhos/as e toda uma geração do Povo Puruborá. A todos, expresso meus mais sinceros sentimentos e meu desejo que a memória do Nilo e sua paixão e respeito pela cultura tradicional de seu povo seja mais uma força na luta pela revitalização da língua Puruborá.
Ana Vilacy Galucio – Museu Emilio Goeldi