Titulares da última edição
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Discursos sobre a fala feminina no Brasil contemporâneo
Amanda Batista Braga & Carlos Piovezani
O artigo analisa tanto discursos que conservam estigmas e depreciações da fala feminina quanto discursos que se contrapõem a tais estigmas e depreciações. Para tanto, valendo-se de pressupostos teóricos e de procedimentos metodológicos da Análise do discurso, examinam-se enunciados produzidos no Brasil contemporâneo a respeito do exercício oratório feminino. O objetivo aqui é o de demonstrar que, a despeito das profundas transformações históricas agenciadas pela cultura Ocidental e, consequentemente, dos deslocamentos sofridos pelas próprias condições de produção dos discursos, as discriminações da fala feminina consolidaram-se de tal modo e com tal força que continuam a se perpetuar em nossos dias, a despeito dos diversos meios, veículos e gêneros textuais em que se materializam. Em conjunto com tal objetivo, há ainda o de indicar que, em oposição a essas discriminações de longa data, surgiram na sociedade brasileira de nossos dias posições igualitárias e feministas que lhes resistem, que as refutam e que se fazem ouvir. DOI: https://doi.org/10.25189/rabralin.v19i1.1694/.
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As genitálias da gramática
Danniel da Silva Carvalho
Gênero como categoria gramatical, segundo uma tradição europeia, pode dizer muito sobre o que fomos levados a entender sobre gramática. Ela ilustra de forma transparente a parcialidade na suas construções histórica e institucional. Este artigo tem o intuito de promover uma reflexão acerca do papel antropomorfizante de certas categorias gramaticais, como gênero, e suas consequências na instituição de um vernáculo. Mais especificamente, discuto como a definição de gênero como categoria gramatical de base grega cria amarras na classificação de nomes em relação aos seus distintos referentes. Por fim, discuto alguns papeis pragmáticos e políticos de gênero, a partir de dados que envolvem ora formas de tratamento (seja pronominal ou nominal), ora expressões referenciais, de línguas como o japonês, o igbo e o português brasileiro, que ultrapassam as fronteiras gramaticais na associação entre pessoa e gênero, mas fazem uso de sua estrutura, respeitando-a, sendo, dessa forma, também atitudes gramaticais. Assumo nessa provocação uma postura crítica e cuir acerca da categoria gênero, dando destaque a uma diferença que não quer ser assimilada ou tolerada na discussão gramatical. DOI: https://doi.org/10.25189/rabralin.v19i1.1693.