Nota pública da Associação Brasileira de Linguística contra os recentes ataques do governo federal à ciência e à educação brasileiras
A ABRALIN é uma associação acadêmica formada por pesquisadores, estudantes e membros da comunidade interessados na investigação científica de aspectos da linguagem humana. Ao longo de seus 50 anos de existência, tem sido regularmente consultada acerca de questões relacionadas à Linguística, que é a ciência da linguagem humana. Assim, por exemplo, tem atuado, através de seus associados, nas ações do Plano Nacional do Livro e Leitura – PNLL, instituído em 2006 pelos então ministros da Cultura e da Educação, Gilberto Gil e Fernando Haddad, com o objetivo de estabelecer diretrizes para uma política pública voltada à leitura e ao livro no Brasil, como consultores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em matérias relacionadas ao recenseamento de Línguas Indígenas, e na comissão técnica do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (Decreto Nº 7.387), instituído em 2010 pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva, com o objetivo de identificar, documentar, reconhecer e valorizar as línguas portadoras de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.
Desde que assumiram a presidência, os atuais membros do governo federal têm atacado sistematicamente a ciência e a educação brasileiras, cortando investimentos fundamentais para o avanço dessas frentes e desautorizando publicamente os profissionais dessas áreas. Em várias ocasiões, o atual presidente da república criticou publicamente e sem fundamentos dados do IBGE e do INPE, sugerindo que essas instituições não devem apresentar indicadores sem a expressa autorização do governo. No último dia 24 de Julho, extinguiu o Conselho Consultivo do Plano Nacional do Livro e Leitura – PNLL e revogou trechos do Decreto Nº 7.387, substituindo-o por uma versão que não prevê a participação de uma comissão técnica formada por membros da comunidade científica. Todas essas ações são extremamente graves e põem em risco a tessitura de uma sociedade que se quer desenvolvida, crítica, saudável e justa. A Associação Brasileira de Linguística expressa profunda preocupação com esses encaminhamentos e conclama toda a sociedade a se mobilizar energicamente contra a exclusão de cientistas e de educadores das instâncias de decisões estratégicas para o desenvolvimento do país.