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A Abralin lançou a campanha “Fundo emergencial covid-19 para os povos indígenas brasileiros” em agosto de 2020. O valor até agora arrecadado foi usado para atenuar, de alguma maneira, o impacto da pandemia por covid-19 em comunidades indígenas, que são as mais vulneráveis ao contágio e contabilizam, no Brasil, até o momento, quase 900 mortes. Sabemos que os mais vulneráveis entre os vulneráveis são os anciões, guardiões de línguas, conhecimentos e memórias. Foi possível atender até agora aos pedidos de socorro de 8 povos indígenas: Apurinã, Fulni-ô, Guató-MT, Gwarayu, Jamamadi, Karajá, Paiter-Surui e Tariano. Agradecemos a todos os que colaboraram com a campanha. A situação entre os povos indígenas ainda continua bastante difícil, sobretudo agora, na segunda onda da pandemia. Muitas comunidades estão sendo afetadas. Nesse sentido, solicitamos que continuem a colaborar, doando a quantia que puderem para o nosso fundo emergencial, aqui.

Abaixo estão os relatos da aplicação das doações entre as comunidades que foram beneficiadas:

APURINÃ E JAMAMADI

Com o valor recebidos por meio de doação da Associação Brasileira de Linguística para auxiliar diminuir os efeitos e abrangência da covid-19 entre os povos indígenas, a Organização dos Indígenas Apurinã e Jamamadi de Boca do Acre no Amazonas (OPIAJBAM) decidiu adquirir cestas contendo alimentos e produtos de higiene, conhecidas como sacolões, no Amazonas, e também óleo diesel para transportar esses sacolões até as aldeias. Foram adquiridas 25 cestas, que foram distribuídas entre três aldeias menores, que possuem poucas famílias, as aldeias Katispero, Ywinawa e Centrim. Essa opção de adquirir alimentos e produtos foi a estratégia pensada para que as pessoas não tivessem que ir às cidades e pudessem permanecer em isolamento nas aldeias. Marinês Santos, da OPIAJBAM, declarou: “O novo coronavirus, assim como outras pandemias, a religião, a discriminação, os preconceitos, tem causado muito sofrimento e perda aos povos originários, como entre os Apurinã e os Jamamadi da região de boca do Acre. Acredito que seja de vosso conhecimento que muitas dessas famílias têm como única fonte de renda, os produtos agrícolas que cultivam e os artesanatos que comercializam. Atualmente, em razão da pandemia, essas famílias são orientadas a não sair de suas aldeias. Aqui em boca do Acre pelos menos 5 terras indígenas não estão homologadas e nem tiveram os estudos de identificação e delimitação iniciados, fato que infelizmente torna um atrativo para a exploração ilegal dos recursos naturais ainda existentes nesses territórios. Em síntese, as famílias não podem vender sua produção e ainda presenciam seus recursos serem roubados pelos invasores. Para tanto, devo dizer que as famílias precisam sim dessa e de outras ajudas que possam suprir ou pelo menos amenizar o momento de crise e dor”.

FULNI-Ô

Em outubro de 2020, os índios Fulni-ô de Águas Belas (Pernambuco) receberam doação do “Fundo emergencial covid-19 para os povos indígenas brasileiros”. A doação foi utilizada para a compra de cestas básicas para famílias em confinamento na reserva sagrada do Ouricuri.

GUATÓ

A ABRALIN destinou doação à Associação Indígena Guató do Povo Guató de Mato Grosso. Os recursos foram usados para a compra de 23 cestas básicas (R$ 1.840,00) e de combustível pra o transporte (R$ 560,00), de modo a aliviar os impactos da pandemia por COVID-19 e dos incêndios que arrasaram o Pantanal mato-grossense e que devastou as roças colocando em risco a segurança alimentar do povo guató. O apoio logístico da FUNAI e do Distrito de Saúde Indígena de Cuiabá foi fundamental para que a doação chegasse, em 10 de outubro 2020, às comunidades beneficiadas: Aldeias Aterradinho e São Benedito, TI Baia dos Guató (Município de Barão de Melgaço, MT). O processo de demarcação da TI foi interrompido e se encontra em contestação por parte de fazendeiros que afirmam serem proprietários do território reivindicado pelos índios.

GWARAYU

No início de dezembro mais uma doação foi destinada ao povo Gwarayu de Uribichá, que vive na Bolívia, na fronteira com o Brasil, e que mantêm intercâmbios com os parentes Guarani no Brasil. O valor foi distribuído entre indígenas cujas famílias foram afetadas pela pandemia.

KARAJÁ

Os recursos obtidos pela campanha da Abralin e direcionados para a Associação Karajá da Aldeia Hawalò (Sta. Isabel do Morro, TO) foram utilizados prioritariamente para a aquisição de medicamentos. Tendo havido seis falecimentos por Covid 19 nesta aldeia e na pequena aldeia JK próxima, as lideranças Karajá da Associação decidiram que os recursos seriam aplicados na aquisição de medicamentos, tendo sido feita uma listagem que atendesse o maior número de famílias, algumas das quais tem anciãos que sofrem de diabetes, dores articulares, problemas gástricos.

PAITER-SURUI

Os recursos obtidos pela campanha da Abralin e direcionados para a Terra Indígena Sete de Setembro, na Aldeia Gapgir do Povo Indígena Paiter-Suruí, em Rondônia, foram utilizados prioritariamente para a compra de cestas de alimentos e produtos de higiene. O povo Paiter-Suruí é o povo indígena mais afetado até o momento em Rondônia, com 204 casos confirmados até meados de dezembro 2020. Depois disso, houve e está havendo um novo aumento de números de casos da doença, não só entre os Paiter-Suruí, mas também entre vários outros povos indígenas em Rondônia.

TARIANO

Outra doação chegou nos Tariana ou Tariano do Alto Amazonas no final do mês de novembro. Rafinha Brito, liderança dos Tariano do Médio Rio Negro nos escreveu: “estamos no desespero por causa o contágio pelo Covid-19”. Seu apelo foi atendido. Com o valor recebido, várias cestas básicas foram adquiridas para as famílias dos indígenas afetados pela Covid-19.

Agradecemos a colaboração de Ana Vilacy Galucio, Marcus Maia, Bruna Franchetto, Swintha Danielsen, Alexandra Aikhenvald.