“O Neofascismo é uma ameaça assustadora, que é de natureza material, mas sobretudo espiritual, ideológica — o que não se via anteriormente. O educador não pode estar distante dessa preocupação. Isso tem que estar sendo discutido nas classes primárias, com linguagem de menino” — Paulo Freire.
Diante de um contexto de constantes ataques à ciência, à pesquisa, às universidades públicas e à Educação brasileiras, é necessário rememorar aqueles que contribuíram fortemente para o avanço deste setor no Brasil, sobretudo quando, aos ataques, vê-se aliarem-se a opressão e a castração da liberdade de expressão e do pensamento crítico. Paulo Freire, reconhecido como Patrono da Educação Brasileira pela Lei Nº 12.612, de 13 de abril de 2012, é uma figura emblemática na luta contra a opressão e pelo desenvolvimento da criticidade do pensar e merece, portanto, a rememoração de seus ideais, mais atuais do que nunca.
Quem foi Paulo Freire?
Nascido em Recife, em 1921, Paulo Reglus Neves Freire foi um filósofo e educador brasileiro, considerado um dos pensadores mais notáveis da História da Pedagogia e uma influente figura do movimento Pedagogia Crítica. Ingressou, inicialmente, na Faculdade de Direito da, então, Universidade do Recife, em 1943, realizando também estudos de Filosofia da Linguagem. Já nas décadas de 1950 e 1960, Paulo Freire dedicou-se a estudos no campo da educação de adultos em áreas proletárias e subproletárias, urbanas e rurais, em Pernambuco, nos quais alcançou resultados positivos. Em 1961, Freire assumiu a Diretoria do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife e, desde então, empenhou-se cada vez mais na alfabetização e na educação das classes oprimidas. Freire empregou um modelo de alfabetização que logrou êxito em pouquíssimo tempo, conhecido por Método Paulo Freire, que foi reconhecido e ampliado no Plano Nacional de Alfabetização, em 1964, pelo governo de João Goulart. Pouco tempo depois, no entanto, o pensador foi exilado do país pelo regime autoritário instaurado pela Ditadura Militar. Com o seu exílio, o filósofo paasou por diversos países, nos quais recebeu o reconhecimento por seu método e obra revolucionários. Autor de mais de vinte livros e coautor de outras treze obras, Paulo Freire teve a sua produção traduzida para diversos idiomas, sendo Pedagogia do oprimido, considerada a sua magnum opus, traduzida para mais de vinte idiomas.
O Método Paulo Freire notabilizou-se pela sua proposta interdisciplinar, pelo desenvolvimento do pensamento crítico dos educandos, para que estes pudessem intervir em suas realidades, e pela sua crítica ao que chamou “modelo bancário de educação”. Paulo Freire aplicou o seu método, inicialmente, no Nordeste brasileiro, região marcada por fortes reminiscências do Colonialismo e na qual a maior parte da população era analfabeta, alcançando os primeiros resultados em pouquíssimos dias. O educador presava a articulação das vivências e realidades dos educandos, de modo que a Educação lhes servisse de instrumento para a conquista de sua autonomia e de intervenção na sociedade e para o desenvolvimento de sua consciência crítica. Freire foi também um crítico da “cultura do silêncio” empregada pelo sistema de ensino convencional, que atuaria na manutenção do poder exercido pelas classes dominantes sobre as classes oprimidas, através do não-desenvolvimento do pensamento crítico. A pedagogia, para Paulo Freire, assumia portanto o papel de uma práxis que propõe a libertação das classes oprimidas.
“Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que se proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica.” — Paulo Freire.
Títulos e Homenagens recebidos por Paulo Freire
A obra e o empenho de Paulo Freire renderam-lhe reconhecimento internacional, não apenas pelas causas sociais que defendia, mas pelos métodos empregados para, por meio da Educação, superar as desigualdades sociais. Paulo Freire é Cidadão Honorário das cidades do Rio de Janeiro (1983), São Paulo (1986), São Bernardo do Campo (1987), Campinas (1987), Belo Horizonte (1989), Itabuna (1992), Porto Alegre (1992), Angicos (1993) e Uberaba (1995). Em agosto de 1979, recebeu a Ordem do Mérito da Marim dos Caetés, de Olinda. Em 1985, recebeu o prêmio William Rainey Harper da Religous Education Association of the U.S. and Canada. Entre vários outros títulos, Freirei foi condecorado, em 1987, com o Título de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Educativo do Ministério da Educação e Cultura do Brasil, pelo qual também recebeu o Título de Grão-Mestre da Ordem Nacional do Mérido Educativo, em 1993. Da UNESCO, receu o Prêmio Mohammad Reza Pahlevi, no Irã, em 1975, e o Prêmio Educação para a Paz, em Paris, em 1986. Recebeu o título de Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco, em 1984, e Distinguished Educator da Northeastern University, de Boston, em 1994.
Paulo Freire é Doutor Honoris Causa das seguintes instituições de ensino: Universidade Aberta de Londres, Inglaterra (1973), Universidade Católica de Louvain, Bélgica (1975), Universidade de Michigan (1978), Universidade de Genebra (1979), New Hamphire College (1986), Universidade de San Simon (1987), Universidade de Santa Maria (1987), Universidade de Barcelona (1988), Universidade Estadual de Campinas (1988), Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1988), Universidade Federal de Goiás (1988), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1988), Universidade de Bolonha (1989), Universidade de Claremont (1989), Instituto Piaget (1989), Universidade de Massachussetts (1990), Universidade Federal do Pará (1991), Universidade Complutense de Madri (1991), Universidade de Mons-Hainaut (1992), Wheelock College (1992), Universidade de El Salvador (1992), Fielding Institute (1993), Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993), University of Illinois (1993), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1994), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1994), Universidade de Estocolmo (1995) e Universidade Federal de Alagoas (1996).