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Um dos papeis das sociedades científicas é divulgar o que é feito na sua área de atuação, de maneira acessível e precisa, bem como apontar equívocos que se propagam a respeito de sua especialidade.
Por isso, a Abralin, uma associação com mais de meio século, sente-se na obrigação de manifestar-se publicamente sobre absurdos ditos durante o debate presidencial de 16/10. Mais do que um discurso partidário, trata-se de manter um rigor científico e de levar informação de qualidade ao público em geral, já que os absurdos tocam diretamente a área da Linguística, sobre a qual temos a prerrogativa e o dever de nos manifestarmos.
Precisamos primeiramente chamar a atenção para o fato de que um “milagre da alfabetização”, pelo qual crianças seriam alfabetizadas em seis meses, só é concebível numa concepção extremamente simplista e simplória de “alfabetização” e, segundo a qual, se a criança sabe que “c+a=ca”, ela está alfabetizada. Ora, qualquer pessoa da área de linguística ou da área de pedagogia, especialmente a que lida com educação básica, sabe que essa “definição” de alfabetização está muito longe de representar o que vem a ser minimamente saber ler e escrever com alguma desenvoltura. Se a solução fosse tão simples, não teríamos 41% das crianças em fase de alfabetização incapazes de ler frases simples, apesar dos jogos miraculosos que supostamente estão à disposição das escolas básicas.
Adicionalmente, embora seja consenso entre educadores a ideia de que trazer um tanto de lúdico para o processo de aprendizagem auxilia e muito no sucesso da tarefa, já é consenso também que a gamificação não é a solução para todos os males. “Fazer um joguinho” para alfabetizar crianças é outra vez uma maneira bastante simplista e simplória de entender o problema de ensino/aprendizagem. Além disso, “fazer um joguinho” dessa natureza coloca problemas computacionais não triviais: os “sistemas tutoriais inteligentes” são complexos, demandam toda uma conversa multidisciplinar, pelo menos cientistas da computação e pedagogos, porque é necessário estabelecer os objetivos da aprendizagem, pensar no perfil do usuário do jogo a ser elaborado e também nos requisitos do sistema para que esse sistema tutorial inteligente atinja seus objetivos. Aqui também, pensar que uma tecnologia educacional são figurinhas coloridas pululantes numa tela é de uma profunda ingenuidade, na melhor das hipóteses. E nem vamos discutir aqui o problema do acesso a rede e a bons equipamentos (um celular bom, no mínimo), para que essa solução possa ser vislumbrada.
Quer saber o que é alfabetização? Veja a conferência da profa. Magda Soares, associada da Abralin e especialista da área, em  https://www.youtube.com/watch?v=UnkEuHpxJPs